22/04/2008
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Chagas – “Espero que o PNLT leve em conta todos os gargalos logísticos”

Para Elizabeth Chagas, consultora que trabalha há 37 anos no setor de agricultura e logística internacional, acredita que, no momento, é quase impossível existir uma boa cadeia logística no Brasil. Nesta entrevista para a Agência ABCR, Chagas explica quais são as dificuldades e como elas podem ser resolvidas.

Agência ABCR – Em artigo publicado na Gazeta Mercantil, você diz que é quase impossível uma boa logística no Brasil. Por quê?
Elizabeth Chagas - Porque temos deficiência de tudo o que está relacionado à cadeia logística. A extensão territorial do Brasil trabalha a favor da economia quando se pensa em produtividade agrícola, mas de forma contrária quando se trata do escoamento dessa produção.

De modo geral, as rodovias se encontram em péssimas condições. A infra-estrutura ferroviária é do século passado e ainda opera com dois tipos de bitola, a estreita e a larga, uma característica que representa um obstáculo para sua ampliação. O Brasil poderia utilizar operações de cabotagem e navegação fluvial, mas, infelizmente, não se faz uso dessas duas modalidades de transporte. Outro exemplo é o fato de que o valor das tarifas portuárias e a obrigatoriedade do uso de navios brasileiros resultam em custos de frete marítimo interno proibitivos.

Agência ABCR – O Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT) do governo federal pretende mudar a forma como o transporte de cargas está distribuído entre os modais. O que você espera desse Plano e como você avalia esta questão?

EC - Hoje a divisão logística brasileira é 58% rodovias, 35% ferrovias e 17% hidrovias. Há uma série de investimentos que precisam ser feitos. Apesar do grande crescimento e dos recursos financeiros injetados na malha ferroviária, estamos aquém de nossas necessidades, já que a demanda é maior do que o volume de recursos investidos.

A malha rodoviária do Centro-Oeste brasileiro se parece com as estradas do Velho Oeste dos EUA. Precisamos voltar a investir na Marinha Mercante para, assim, aproveitar melhor a costa brasileira, que tem quase 6 mil quilômetros. Além disso, não é possível praticar operações de cabotagem quando acabamos com a Marinha Mercante.

Temos que usar os rios para transporte fluvial, não podemos continuar crescendo sobre estradas de rodagem. O investimento em cabotagem e no transporte fluvial ajudaria a ampliar a infra-estrutura para viabilizar o crescimento do País. Espero que o PNLT considere todos esses gargalos e os obstáculos e aponte para uma solução, para que tenhamos um transporte eficiente.

Agência ABCR – Qual é o papel da iniciativa privada na recuperação e ampliação da rede de transportes do Brasil?
EC - Quando o Governo privatizou as estradas e as ferrovias, tudo estava muito sucateado e sem investimentos. A iniciativa privada já está fazendo a sua parte: as concessões melhoraram as condições das estradas e das ferrovias que entraram nesse processo.

Até mesmo o Porto de Santos melhorou muito com as novas injeções financeiras feitas pelos investidores que arrendaram os terminais. No entanto, ainda está muito longe de ser um modelo de eficiência. Temos ainda muito a ser feito. Por exemplo, os terminais existentes não poderão atender à demanda crescente que será criada pelo álcool nos próximos.

Agência ABCR – A cada novo resultado de boa produtividade agrícola no Brasil, aumentam os temores de um apagão logístico. O que é possível fazer, em médio prazo, para melhorar a situação do setor agrícola, sobretudo com relação ao escoamento da produção?
EC - Acabou a época do “eu acho”. É preciso planejar e criar uma voz única. Acredito que o Deagro (Departamento de Agro-Negócio), criado há um ano na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) poderia ser melhor utilizado.

Para encontrar a eficiência que se busca, o Brasil precisa perder seus modelos exclusivistas e passar a viver no coletivo. Cada segmento da economia que compõe a cadeia produtiva tem que deixar de lado suas vaidades e trabalhar para o bem maior da logística nacional. É bom lembrar que a produtividade brasileira que estamos assistindo é resultado de muita pesquisa da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), muito trabalho dos pioneiros do agronegócio e muitos investimentos da iniciativa privada.

É fundamental melhorar o sistema portuário brasileiro, com a criação de novos terminais, melhores e mais bem equipados, dar forças para a reestruturação da Marinha Mercante, criar um sistema de Seguro Rural que ofereça securidade a toda cadeia de produção e, também, zonas de armazenamento para que todos tenham acesso aos portos.

Assim, estaríamos criando condições de igualdade para podermos negociar nossos produtos agrícolas em condições de maior igualdade frente aos mercados europeu e norte-americano, onde a agricultura é subsidiada e protegida por seus governos.

 
 
Assista vídeo de Entrevista em Destaque
Sobre Elizabeth Chagas...
Apesar de ter sempre transitado em um mundo predominantemente masculino, o da logística e comércio internacional no agronegócio, Elizabeth Chagas atingiu em dezembro de 2007, o patamar máximo neste segmento, como vencedora do “Prêmio As Mulheres Mais Influentes do Brasil”, na categoria de agronegócio, promovido pela Gazeta Mercantil. Em março de 2008foi agraciada com o “IV Prêmio Excelência Mulher” concedido pelo CIESP... [leia mais]
   
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